Dear friends,
thanks to Renate Müller, translator of the book and the exhibition "The Girls of Room 28" into the Portuguese-Brazilian language, my theatre-play about these girls could be published as part of the
Edition Room 28
in Portuguese. Those of my friends who speak Portuguese, can read the preliminary remarks that give an insight into the origins of this play, which is a music theatre-play, as music played an important role in Room 28. German readers please look at
Theaterstück
If you are interested to get a copy, please send me an Email.
Observações
sobre a peça │ livro de cenas
A presente peça teatral baseia-se na história autêntica das Meninas do Quarto 28, L 410 Theresienstadt. É o resultado de muitas conversas que mantive entre 1996 e 2002 com um grupo muito especial de sobreviventes do gueto Theresienstadt e outros sobreviventes do Holocausto nos Estados Unidos, em Israel, na República Tcheca, na Alemanha e em Viena, bem como durante nossos encontros anuais durante o outono em Špindlerův Mlýn/Spindlermühle (Moinho de Spindleruv), situado nas Montanhas dos Gigantes.
Ali, durante as nossas oficinas, fui testemunha e, ao mesmo tempo, participante de um trabalho de memórias que a cada encontro crescia em intensidade e vitalidade. Uma passagem do diário de Helga, palavras colhidas do álbum de poesias de Flaška, um poema do caderno de anotações de Handa, uma foto, um desenho feito por uma criança – e de repente o passado se tornou presente, tangível também para mim, arrebatada por esse fluxo de consciência para dentro de uma história que não me deixou até hoje.
A maioria das cenas e diálogos que se entrelaçam nesta peça de teatro teve sua origem nesses primeiros encontros anuais. A peça foi a minha primeira tentativa de transportar o texto para uma forma artística.
No entanto, o roteiro nunca parecia estar “pronto”. Mesmo enquanto eu escrevia, eu escutava uma música. No Quarto 28, a música desempenhou um papel significativo, graças à cuidadora Ella Pollak (Tella), uma pianista e educadora musical. Juntamente com seus protegidos, ela fundou um coral e com três garotas do quarto formou um trio. Seu canto frequentemente podia ser ouvido do lado de fora, chegando até a praça principal. Conta-se que os transeuntes paravam em frente ao Abrigo das Meninas para escutar as vozes que cantavam.
Frequentemente se ouvia música no Quarto 28. Ela se originava do porão do Abrigo das Meninas, onde Rafael Schächter ensaiava seu coro – Bastien e Bastienenne de Mozart, A Noiva Vendida de Smetana ou o inesquecível Réquiem de Verdi. A partir do verão de 1944, a música passou a ser ouvida também a partir do pavilhão recém construído na praça principal, bem em frente ao Abrigo para Meninas. Ali, a banda da cidade geralmente tocava e, às vezes, também os Ghettoswingers.
Mesmo durante a leitura de poemas – por exemplo, poemas de Handa Drori, nascida Pollak, que escrevia poemas maravilhosos em seu caderninho de anotações em Theresienstadt – ou durante determinadas cenas, eu escutava música mentalmente. E também em cenas relacionadas à ópera infantil Brundibár. Eu tinha uma certeza: apenas uma peça teatral musicada conseguiria fazer jus ao tema.
Mas como eu seria capaz de colocar em papel tudo o que me vinha à mente? Tudo que eu ouvia nas entrelinhas e ouço até hoje? Eu, sozinha, sem um compositor ou compositora, sem um conjunto de músicos com uma vontade ferrenha de levar a história para o palco? – Nessa época, deixei o manuscrito de lado. E comecei a me concentrar no livro, que foi publicado pela primeira vez pelo Droemer Verlag Munique 2004 Seguiu-se uma edição tcheca (2006, uma americana (2009), uma polonesa (2013) e uma brasileira (Editora Leya em 2014).
No entanto, eu não abandonei o manuscrito completamente. E foi assim que, a partir de 2003, a peça foi escolhida por diversos grupos teatrais juvenis e encenada em diferentes cidades. Em algum momento, coloquei o manuscrito na gaveta novamente e só o tirei de lá novamente em 2020. Para então apresentar a peça em seu formato atual.
Com a publicação do livro em 2004 e a exposição inaugurada pela primeira vez em Schwerin no mesmo ano, o material começou a ganhar vida própria. A peça sempre voltou ao palco de maneiras diferentes. Não apenas devido às incontáveis leituras do material que fiz com os sobreviventes, a maioria delas com a vienense Helga Kinski, que fazia leituras de trechos de seu diário original de Theresienstadt. Muitas vezes, esses eventos eram acompanhados de apresentações artísticas. Notáveis foram as apresentações nas quais o pequeno conjunto de Anna Töller, de Bad Aibling (na Bavária) cantou canções de Brundibár e as apresentações com o fantástico Ensemble Zwockhaus, de Berlin, com suas canções autênticas maravilhosas e convincentemente executadas pelo Theresienstädter Kabarett e Ilse Weber.
Mesmo baseado livremente no livro, o material artístico chegava ao palco repetidas vezes. A produção fascinante “Und der Regen rinnt...” (E a chuva cai...) apresentada em julho de 2014 em Friedrichshafen foi inesquecível. Esse foi o trabalho de conclusão do seminário de educação pedagógica teatral em Meckenbeuren, sob a direção de Jürgen Mack e dirigida por Olek Witt. As mensagens centrais da história foram encenadas maravilhosamente pelo diretor, demonstrando a importância da arte, cultura e humanidade em uma época desumana. Desde então, Olek Witt levou a história para o palco de várias formas, mais recentemente em Dresden, em 2019. A performance consistindo de texto, vídeo e música foi intitulada “Onde está o coração do nosso mundo?” uma citação do diário de Helga Pollak.
Outra citação do diário de Helga é o título de um evento que havia sido planejado para o dia 20 de junho de 2020 no Leipziger Gewandhaus, com o coro infantil do Gewandhaus: “A música é a mais bela criação da alma humana”. Para este projeto eu elaborei uma coleção de canções. Infelizmente, o evento preparado pelo diretor do coral Frank-Steffen Elster e Olek Witt (direto) foi cancelado devido à pandemia.
Com isso, meu desejo de publicar o manuscrito passou a ser ainda maior. Eu o faço independente de limitações de horário, local ou restrições pessoais, como as que ocorrem normalmente durante uma implementação real em um determinado palco. Por este motivo, chamo a peça (pela sua abrangência e, sobretudo, pela sua “incompletude”) e por falta ou apenas insinuações de elementos musicais, de “livreto de cenas”. A outra razão é que também vejo isso com parte do tratamento dado a um filme. Mas isso não deve dar a impressão de que as cenas são encadeadas aleatoriamente, muito pelo contrário. As cenas seguem uma lógica interna, intensificando a dramaturgia do início ao fim. Ao mesmo tempo, o material, tal como é veiculado pelo livro e pela exposição e revelado pelo diário de Helga Pollak, é uma fonte inesgotável de inspiração que evocará novas imagens, cenas e ideias em todos os que com ele se ocupam.
O fato de que a primeira publicação alemã lançada em setembro de 2020 também será publicada em uma edição traduzida para o português se deve à Renate Müller, a tradutora para o português do meu livro e da exposição As Meninas do Quarto 28. Muito obrigada, Renate!
Também dedico a peça teatral à memória de Helga Pollak-Kinsky, que faleceu inesperadamente em 14 de novembro de 2020, enquanto eu trabalhava na edição em língua portuguesa. Helga foi a primeira pessoa a ter em mãos a edição alemã de setembro de 2020 e a leu imediatamente. Fiquei muito feliz quando Helga valorizou mais esta “pedrinha da memória”.
Que esta peça inspire muitas pessoas, para que a história dessas meninas ainda possa ser ouvida e contada em meios teatrais, musicais e cinematográficos.
Hannelore Brenner
30 de novembro de 2020